PINTURA DE PAISAGEM E GÊNERO E A PRODUÇÃO ARTÍSTICA SEISCENTISTA
Organized byFrank Silva
No contexto histórico-artístico em que se insere a condição dos viajantes do século XVII que aportaram em terras pernambucanas, alvo do estudo, o gênero pictórico da Pintura de Paisagem se reveste de importância capital. No entanto não só nesse momento, mas em vários outros da história da humanidade, a condição de retratação da paisagem se fez presente. Poderíamos dizer que as imagens retratadas nas cavernas da Altamira, Espanha, bem seriam um espelho da paisagem vislumbrada pelo homem daquele momento, salvo as devidas proporções e as implicações, técnicas e repertório imaginário desse mesmo homem. Desse momento em diante o homem ao longo de sua existência e nos variados estilos artísticos periodizados ou não também desenvolveu a pintura de paisagem, com maior ou menor acuidade e apuro técnico.
Da pintura de gênero, tem-se desenvolvimento durante o Barroco, com especial atenção nos Países Baixos, e que nesse momento observa apuro pela sobriedade e realismo, observando a condição de cenas rotineiras, tratando da vida diária, nos ofícios e afazeres domésticos, incluindo até mesmo a paisagem em seu contexto. No caso específico holandês tem-se a ‘pintura de genre’ (petit genre) como elemento pictórico de afirmação histórica holandesa (neerlendesa) em face à dominação espanhola, caracterizando-se pela riqueza de detalhes, acuidade e apuro técnico; desenvolvendo-se em meio à uma codição de igual evolução científica de tal que resulta na dialética entre natureza (ciência) e arte, muito característico da pintura holandesa do século XVII, que vai de encontro aos modelos estéticos observados na pintura italiana; perspectiva, cores, luz e sombra são recursos altamente explorados.
De todo esse modelo resulta questionamento que permeou a contextualização das obras no que se refere à ser uma cópia, representação ou interpretação da realidade, questionamento a que está também sujeita a fotografia. No mais suscita o pensamento sobre o conhecer e o ver levando à configuração de uma pintura mental ou visual, e tal condicionante será uma retórica para muitos artistas que ora farão uma obra a partir de uma visualidade e ora de uma mentalidade ou memória, reunindo elementos da citada visualidade. A condição do novo mundo construís na mente dos artistas toda sorte de elementos e possibilidades de combinações e realidades, resultando muitas vezes em condições que naturalmente, jamais ocorreriam.
Tratando de um modo geral o modelo da pintura do século XVII, destacam-se além dos holandeses, artistas de nacionalidades diversas destacaram-se, como os italianos Caravaggio (1573-1610), com destaque para a obra ‘O sepultamento’ (c. 1602-1604, óleo sobre tela, 300 x 203cm. Roma, Pinacoteca Vaticana); Guido Reni (1575-1642) com ‘O Massacre dos Inocentes’ (1611, óleo sobre tela, 268 x 170cm. Bolonha, Pinacoteca Nazionale); Anibale Carraci (1560-1609) com ‘O Triunfo de Baco e Ariadne’ (c. 1595-1605, pintura de teto. Roma, Palazzo Farnese); Guernico (1591-1666) com ‘O Regresso do Filho Pródigo’ (1619, óleo sobre tela, 106 x 143,5cm. Viena, Kunsthistorisches Museum); Luca Giordano (1634-1705) com ‘A Queda dos Anjos Rebeldes’ (1666, óleo sobre tela, 419 x 283cm).
Os franceses Simon Vouet (1590-1646) com ‘Saturno, Conquistado por Amor, Venus e Esperança’ (c.1645-1646, óleo sobre tela, 187 x 142cm. Bourges, Musée du Berry); Claude Lorrain (1600-1682) com ‘Porto do Mar ao Nascer do Sol’’ (1674, óleo sobre tela, 72 x 96cm. Munique, Bayerische Staatsgemäldesammlungen, Alte Pinakothek) esta com destaque por apresentar uma paisagem com construção clássica e barcos com horizonte baixo e imponente por do sol; Charles Le Brun (1619-1690) com ‘O Martírio de São João Evagelista na Porta Latina’ (c.1641-1642, óleo sobre tela, 282 x 244cm. Paris, Saint-Nicolas du Chardonnet).
O alemão Georg Flegel (c.1566-1638) com sua ‘Natureza Morta’ (s.d., óleo sobre cobre, 78 x 67cm. Munique, Bayerische Staatsgemäldesammlungen, Alte Pinakothek). Os espanhóis Bartolomé Esteban Murillo (1617/18-1682) com ‘O Pequeno Vendedor de Fruta’ (c.1670-1675, óleo sobre tela, 149 x 113cm. Munique, Bayerische Staatsgemäldesammlungen, Alte Pinakothek) e Diego Velásquez (1599-1660) com a grande obra ‘As meninas’ (1656-1657, óleo sobre tela, 318 x 276cm. Madrid, Museo Del Prado).
Em termos de produção artística holandesa, diversos nomes podem ser citados com inúmeras obras, como Jan Brughel, o Velho (1568-1625) com ‘A Sagrada Família’ (s.d., óleo sobre painel, 93,5 x 72cm. Munique, Bayerische Staatsgemäldesammlungen, Alte Pinakothek), obra que tem como destaque grande grinalda de flores e frutas diversas, de grande colorido, observada em outras versões nos frontispícios de grades obras literárias; Peter Paul Rubens (1577-1640) com ‘Rubens com a sua Primeira Mulher, Isabella Brant, no Caramachão de Madressilva’ (c.1609-1610, óleo sobre tela, 178 x 136,5cm. Munique, Bayerische Staatsgemäldesammlungen, Alte Pinakothek); Jacob Jordaens (1593-1678) com ‘O Sátiro e a Família do Agricultor’ (c.1620, óleo sobre tela, 174 x 205cm. Munique, Bayerische Staatsgemäldesammlungen, Alte Pinakothek); Rambrandt Harmensz van Rijn (1606-1669) com a grande obra ‘A Ronda da Noite’ (1642, óleo sobre tela, 363 x 437cm. Amsterdam, Rijksmuseum); Johannes Vermeer (1632-1675) com ‘Alegoria da Pintura’ (c.1666, óleo sobre tela, 120 x 100cm. Viena, Kunsthistorische Museum) que retrata a condição de desenvolvimento científico por que passava a humanidade com um mapa na parede ao fundo; Willem van de Velde, o Moço (1633-1707) com ‘O Tiro de Canhão’ (s.d., óleo sobre tela, 78,5 x 67cm. Amsterdam, Rijksmuseum), representando uma embarcação em que se pode notar a condição acústica representada por nuvem de fumaças. Além desses pode-se citar ainda Salomon van Ruysdael (ca.1600 - 1670); Albrecht Altdorfer (ca.1480 - 1538) e Jan van Goyen (1596-1656).
ADAM ELSHEIMER
Fuga para o Egito, 1609.
ÓLEO DOBRE COBRE, 31 x 41cm.
Munique, Alte Pinakothek.
JOHANNES VERMEER
Vista de Delft, 1659-1660
ÓLEO DOBRE TELA, 98,5 x 117,7cm.
Haia. Royal Picture Gallery Mauritshuis.
JAN VAN GOYEN
Paisagem com Dois Carvalhos, 1641
ÓLEO SOBRE TELA, 89 x 111cm
Amsterdam, Rijksmuseum
JACOB VAN RUySDAEL ISSACKSZON
Vista de Haarlem com Branqueamento Grounds, c. 1665
ÓLEO DOBRE TELA, 62,2 x 55,2 cm
Zurique, Kunsthaus
JACOB VAN RUySDAEL ISSACKSZONO
Raio de Sol, c. 1660
ÓLEO DOBRE TELA, 83 x 99 cm
Paris, Musée du Louvre
ELDER JAN VERMEER
Vista de Haarlem da Dunas, 1660
ÓLEO SOBRE TELA, 65 x 84cm
Madri, Museo Thyssen -Bornemisza
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